O livro, intitulado “25 de Novembro: O retrato de um país dividido”, é da autoria do jornalista Paulo Moura (Objectiva – Penguin Random House) e conta com entrevistas a personalidades como o deputado do Chega Diogo Pacheco de Amorim, o ex-sindicalista Manuel Carvalho da Silva e os historiadores Jaime Nogueira Pinto e Irene Flunser Pimentel.
Em declarações à agência Lusa, Paulo Moura indicou que, numa altura em que o Governo prepara as comemorações dos 50 anos do 25 de Novembro de 1975, quis refletir sobre as divisões do país: passadas e presentes.
Na altura do 25 de Novembro, “o país estava muito dividido, ao ponto em que estivemos na iminência de uma guerra civil. A guerra civil esteve iminente porque o país — ou, pelo menos, há essa sensação – estava absolutamente dividido em dois”, referiu.
50 anos depois, Paulo Moura considera que se está a assistir a “algo parecido” na sociedade portuguesa: “o país volta a estar muito dividido, com uma divisão irreconciliável entre partes que nem conseguem dialogar uma com a outra”.
“E a minha reflexão passa por perceber se essas divisões têm alguma coisa a ver com as divisões surgidas nessa altura”, referiu o jornalista, salientando que queria perceber se se mantêm divisões históricas na sociedade portuguesa, como entre o norte e o sul, o mundo mais urbano e mais rural ou entre conservadores e progressistas.
“As divisões que temos hoje são as mesmas? Ou é uma coisa totalmente diferente e que vem das guerras culturais importadas dos Estados Unidos? Ou até que ponto é que essa nova divisão se encaixa nas divisões endémicas portuguesas, antigas? O livro é uma reflexão sobre estes temas”, disse.
Apesar de salientar que não chegou a conclusões sobre a matéria, Paulo Moura salienta que todos as personalidades que entrevistou, da esquerda à direita, concordaram numa ideia: “que Portugal hoje é um país dividido”.
“Essa divisão, de onde é que ela vem, se ela é de facto real ou um pouco imaginária, isso não se percebe. Mas a verdade é que nunca vimos discussões tão acesas, tão violentas, pessoas que são irredutivelmente diferentes de opiniões. Portanto, essa divisão existe, é muito forte e é muito preocupante”, referiu.
Quando comparado com o 25 de Novembro, Paulo Moura refere que as divisões de hoje não parecem “tão reais” como as que se experienciaram em 1975, quando o país esteve “à beira de uma guerra civil”, e parecem basear-se mais “ao nível das guerras culturais”.
No entanto, o autor salientou que o que se verifica hoje, 50 anos depois do 25 de Novembro, é que as ideias da direita mais radical, que considera ter sido a principal derrotada nesse dia, porque todos os partidos dessa área política foram ilegalizados, começam agora a regressar.
Paulo Moura considera que é nesse quadro que se inscrevem as comemorações, organizadas pelo Governo, dos 50 anos do 25 de Novembro, que estima servirem como “uma espécie de vingança da direita para reivindicar todos estes 50 anos em que a esquerda se andou a rir”.
No entanto, o autor considera que o 25 de Novembro não pode ser equiparado ao 25 de Abril, salientando que “o que definiu o novo regime aconteceu no 25 de Abril” e o objetivo do 25 de Novembro foi mesmo o de “restaurar os ideais iniciais” da Revolução dos Cravos.
“Enquanto o 25 de Abril é uma data que brilha no escuro com luz própria, o 25 de Novembro não é, só subsiste iluminado pelo 25 de Abril”, resume.
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