“Apelo a Tarek William Saab [Procurador-geral da Venezuela], apelo aos juízes do país, como chefe de Estado: se houver algum caso para retificar e também para rever que haja justiça”, afirmou o chefe de Estado venezuelano, que falava durante uma nova emissão do programa radiofónico e televisivo “Com Maduro +”, formato transmitido em simultâneo pelas redes sociais.
“A justiça é justa porque pune quem deve ser punido e estabelece a verdade em todos os casos e perdoa quando deve ser perdoado, no caso de ter havido algum tipo de erro processual”, prosseguiu o governante, frisando que nos dias seguintes às eleições presidenciais, de 29 a 30 de julho, foram registados tumultos no país, “com violência aqui, ali”, mas que “de repente chegou a paz”.
A organização não-governamental (ONG) venezuelana Foro Penal denunciou hoje que atualmente 1.963 pessoas estão detidas por motivos políticos na Venezuela, entre elas 69 adolescentes.
“Balanço de presos políticos registados pelo Foro Penal na Venezuela: 1.963 presos políticos dos quais 1.836 desde 29 de julho de 2024 [início dos protestos pós-eleições presidenciais]. Registámos e qualificámos o maior número de presos políticos conhecido na Venezuela, pelo menos no século XXI, e continuamos a receber e a registar detidos”, denunciou a ONG na rede social X.
De acordo com a organização, entre os detidos, 1.720 são homens e 243 mulheres e 1.801 são civis e 162 militares, tendo sido registadas seis novas detenções na última semana.
A ONG precisou ainda que apenas dos 148 detidos foram condenados por tribunais.
“Desde 2014 foram registadas 17.952 detenções políticas na Venezuela. O Foro Penal deu assistência gratuita a mais de 14.000 detidos, hoje ex-carcerados, e a outras vítimas de violações dos seus direitos humanos”, referiu a ONG, precisando que “mais de 9.000 pessoas continuam sujeitas arbitrariamente a medidas restritivas da sua liberdade”.
Em 20 de outubro, centenas de pessoas anti-regime manifestaram-se em vários países para pedir ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que ajude as crianças detidas na Venezuela após as eleições presidenciais de 28 de julho.
Na altura, o partido da oposição Vente Venezuela (VV), liderado pela ex-deputada María Corina Machado, disse que as manifestações tiveram lugar em 60 cidades de países como os Estados Unidos, Espanha, Suécia, Israel, Itália, Austrália, Nova Zelândia, Bélgica e Países Baixos.
Na Venezuela são frequentes as queixas de familiares de detidos no âmbito dos protestos pós-eleições, denunciando que têm de viajar centenas de quilómetros para tentar, muitas vezes sem sucesso, visitar os familiares detidos.
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais em 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória ao atual Presidente do país, Nicólas Maduro, com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente.
Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.
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