A 15 de setembro de 2014, a Missão Internacional de Apoio à República Centro-Africana (RCA) com Liderança Africana (MISCA), liderada pela União Africana (UA), transferiu a sua autoridade para a Minusca, que foi formada em 10 de abril desse ano, na qual Portugal participa desde 2017.
“Saudamos os esforços da Minusca em conjunto com as instituições. Herdaram uma situação difícil na altura, mas graças à sua ação alcançámos os nossos objetivos, especialmente em termos de paz”, disse à EFE o porta-voz do Governo centro-africano, Maxime Balalu.
O país – um dos mais pobres do mundo, apesar de ser rico em diamantes, urânio e ouro – tem sofrido uma violência sistémica desde finais de 2012.
Uma coligação de grupos rebeldes de maioria muçulmana (Séléka) apoderou-se então da capital, Bangui, e derrubou o Presidente François Bozizé, após dez anos no poder (2003-2013), dando início a uma guerra civil.
Como resistência à Séléka, formaram-se milícias cristãs anti-Balaka que, tal como o primeiro grupo, acabaram por se dividir em fações armadas.
A ONU, que já tinha alertado para o risco de genocídio, acompanhava de perto a evolução da situação no país.
Políticos centro-africanos como Joseph Bendounga, líder da oposição a Bozizé, e Michel Djotodja, que viria a ser presidente da RCA (2013/2014), já tinham proposto a ideia de colocar o país sob a supervisão da ONU.
“Dada a situação na altura, sentimos que só a ONU poderia ajudar-nos a recuperar. Embora a situação continue a ser alarmante, penso que não devemos perder de vista o essencial. A Minusca fez progressos, mas ainda há muito a fazer”, defendeu Balalu.
O destacamento da Minusca, que em março tinha mobilizado mais de 13.500 soldados e 3.000 polícias, simbolizava a esperança de uma população esmagada e indefesa face aos assassinatos, pilhagens e violações de mulheres perpetrados pelas milícias.
“Pensámos que, com a presença da ONU, poderíamos alcançar a paz muito rapidamente”, disse Ulriche Wanakoulé, natural de Loura, uma cidade onde o grupo rebelde 3R (Retorno, Recuperação e Reabilitação) matou civis em 2019.
“Mas falam-nos de mandatos enquanto os grupos armados se organizam e matam em massa. Isso não é possível”, acrescentou.
A Minusca, que tem um mandato para proteger os civis, não conseguiu estabelecer a paz no país, o que desagrada ao presidente da Liga Centro-Africana dos Direitos Humanos, Joseph Bindoumi.
“A Minusca é um fracasso. Ela existe para impor a paz e decidir entre as partes em conflito. Mas, com o tempo, o seu mandato passou a ser apenas o de proteger os civis”, disse Bindoumi, questionando se o seu papel “é viver numa área onde há mercenários que matam”.
Centenas de mercenários russos do grupo de segurança privada Wagner chegaram à RCA desde 2018, quando Moscovo e Bangui assinaram um acordo bilateral de cooperação militar, segundo investigações de peritos da ONU.
A Minusca também tem sido criticada pelo alegado envolvimento de capacetes azuis em casos de violação como recordou Laure, familiar de uma mulher violada pelas forças de manutenção da paz na cidade de Bambari.
“Hoje, se tivermos de fazer um balanço, é lamentável porque, para além das mulheres que são violadas pelos grupos armados, os capacetes azuis também o fizeram sem serem julgados e isso é dramático e escandaloso”, criticou Laure.
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