“À porta dos 50 anos de independência não é chegada a hora de soltarmos a política e as inteligências das amarras e artimanhas partidárias para estarem simplesmente ao serviço do bem dos cidadãos e da pátria? Não é chegada a hora de enterrarmos de uma vez por todas a carga histórica negativa e vingativa que habita em nós e ofusca e condiciona a nossa ação política e o perigo das nossas realizações e da nossa reconciliação autêntica?”, questionou hoje o arcebispo angolano, José Manuel Imbamba.
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que falava na abertura da II Assembleia Plenária Anual dos bispos angolanos, questionou também a “normalidade” de se “partidarizar tudo”, nomeadamente pessoas, instituições, reflexões, conhecimentos e pensamentos.
“Não é chegada a hora de nos consagrarmos a análises objetivas, porque científicas, da nossa realidade, libertas das autocomplacências e revanchismos partidários?”, interrogou.
Para o presidente da CEAST, estas questões são “inquietantes”, exortando a todos a fazerem um “exame de consciência e a assumirmos com gritos as nossas respetivas culpas com o propósito de emenda e renovação”.
“Convido, outrossim, as nossas lideranças político-partidárias a nunca romperem as linhas de diálogo, para os consensos que se impõem, em prol do bem de todos, nesta hora em que todos somos necessários”, frisou.
José Manuel Imbamba, líder cessante deste organismo da Igreja Católica em Angola, considerou, por outro lado, que o ambiente social no país “permanece sombrio com elevados índices de ansiedade, nervosismo, inquietação, incerteza, perplexidade, descrédito e desilusão”.
De acordo com o prelado católico, a linguagem político partidária “ainda está muito longe” de incluir, reconciliar, pacificar, unir, alegar, animar e de reacender a confiança e a esperança.
“Continuamos a agir na base da intriga, da falsidade, do ódio, da calúnia, da indiferença, da discriminação, da bajulação, do calculismo, do egoísmo, da divisão e do descompromisso com o bem comum e, sobretudo, com o bem dos mais desfavorecidos”, criticou.
O protagonismo social “ainda é do militante e não do cidadão, facto que mantém a nossa sociedade enferma e refém da bipolarização e da rotulação”, afirmou, defendendo que políticos e intelectuais em Angola têm o dever de injetar na sociedade sementes culturais assentes sobre as bases da dignidade das pessoas, do amor, do bem, da verdade, da justiça e da paz.
A assembleia plenária, que se estende até o próximo sábado, vai abordar a vida social e religiosa do país, nomeadamente a eleição da nova direção da CEAST para os próximos três anos, a realidade das comunidades e a abertura oficial do Triénio 2024-2026 dedicado aos Ministros Ordenados e a Vida Consagrada.
Em relação ao lema do triénio, José Manuel Imbamba, que disse ter feito “o possível” durante o seu mandato e defendeu contínuas reformas administrativas internas, salientou que este se traduz numa reflexão sobre a vocação, identidade e missão face aos desafios atuais.
“Sabemos que, por causa da fraqueza da vida humana, nalguns momentos, o ministério ordenado e a vida consagrada ficaram feridos, lamentamos aqui a tendência atual da banalização da vida sacra e não poucas vezes protagonizada por nós próprios”, concluiu o arcebispo católico.
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