No documento, o diretor-geral da AIE, Fatih Birol, dá também conta da preocupação com a Moldova, nas mesmas circunstâncias, pelo que apela às nações ocidentais para que ajudem estes dois países.
“O sistema energético ucraniano sobreviveu aos dois últimos invernos […] mas este inverno será, de longe, o teste mais severo até agora”, sustentou Birol, que afirmou temer que a paralisação anunciada para o final deste ano do trânsito do gás russo na Ucrânia ameaça a Moldova com uma grave escassez de energia.
Depois da perda de “mais de dois terços” da capacidade de produção de eletricidade da Ucrânia desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, a AIE recomenda no relatório cerca de dez soluções a serem implementadas rapidamente para reparar as centrais elétricas danificadas do país, destruídas ou ocupadas pela Rússia.
“[A situação na Ucrânia] representa um dos problemas de segurança energética mais prementes do mundo hoje”, alerta a agência de energia para os países desenvolvidos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com sede em Paris.
A AIE insta particularmente os países europeus a acelerarem a “entrega de equipamentos e peças sobressalentes” para reparar centrais elétricas danificadas ou destruídas, e a aumentarem a capacidade de importação de eletricidade e gás da União Europeia (UE).
Para o gás, a agência considera que a Eslováquia, Hungria e Polónia deveriam trabalhar com o resto da UE para sustentar “a longo prazo” os aumentos na capacidade de exportação concedidos urgentemente após a invasão russa.
O relatório destaca também a necessidade de reforçar “a segurança física e informática das infraestruturas críticas”, em particular através da construção de proteção anti-drones nas centrais elétricas, e defende ainda a aceleração “da descentralização da produção de eletricidade”.
Antes da invasão russa, a Ucrânia dependia da energia nuclear para metade da sua eletricidade, das centrais a carvão para 23% e das centrais a gás para 9%.
A AIE estima o montante necessário para reparar os danos e modernizar a rede elétrica “em cerca de 30.000 milhões de dólares” (cerca de 26.870 milhões de euros).
A agência calcula até a extensão do apagão que ameaça a Ucrânia neste inverno, em que a procura de eletricidade poderá subir para 18,5 gigawatts (GW).
No entanto, faltariam 6 GW de capacidade de produção, o equivalente ao que a Dinamarca consome durante um pico de procura.
Para aquecimento, foram danificadas 18 centrais térmicas e elétricas, bem como 815 salas de caldeiras e 354 quilómetros de tubagens de aquecimento urbano. Só para este sector, o montante dos danos é estimado em 2.400 milhões de dólares (cerca de 2.150 milhões de euros).
Também na Moldova “o inverno pode ser desestabilizador”, alerta a agência.
Embora o pequeno país não esteja exposto aos bombardeamentos russos como a Ucrânia, depende da Rússia para dois terços do seu fornecimento de eletricidade, porque a principal central de gás que o alimenta está localizada na região separatista pró-russa da Transnístria.
No entanto, a cessação do trânsito de gás russo através da Ucrânia após 31 de dezembro “cria uma incerteza significativa para o fornecimento de gás à região da Transnístria e para a segurança elétrica da Moldova”, observa o relatório.
A Ucrânia anunciou no final de agosto a intenção de não renovar o contrato que a vincula à Rússia até 31 de dezembro para transportar gás russo para a Europa através da sua extensa rede de gasodutos.
Reforçar as interligações com os países europeus, observa a AIE, “é essencial para apoiar a segurança energética da Moldova”, que está a trabalhar, por sua vez, na diversificação das suas infraestruturas, nomeadamente através do desenvolvimento da energia solar e eólica.
A construção de uma terceira nova linha de alta tensão entre a Moldova e a Roménia foi aprovada e “deverá estar operacional em 2031”, depois de duas outras planeadas em 2025 e 2027 (Vulcanesti-Chisinau e Balti-Suceava), recorda a AIE.
Mas, para este inverno, a Moldova dependerá principalmente de “geradores a gasóleo e ‘stocks’ de lenha e biocombustíveis”.
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