A epicondilite lateral do cotovelo ou ‘cotovelo do tenista’ como também é conhecida, é uma das queixas mais comuns no praticante de desportos com raquete, estimando-se que cerca de 40-50% dos jogadores de ténis com atividade regular apresentem esta condição. Contudo, esta patologia não é exclusiva dos desportistas, sendo igualmente encontrada em operários fabris e industriais, podendo atingir os 7%.
Esta prevalência está claramente relacionada com um gesto técnico repetitivo, desportivo ou laboral, em extensão do punho e pega (‘handgripping’), especialmente quando envolve alguma carga.
Como se desenvolve esta lesão?
No caso específico do ténis, o desenvolvimento de lesão tem início no microtrauma de repetição, que conduz a uma inflamação inicial transitória (‘tendinite’), que progride para alterações degenerativas na própria estrutura do tendão (‘tendinose’ e pequenas calcificações insercionais). Este quadro muitas vezes culmina em roturas e incapacidade para a adequada função do antebraço e punho, não só para atividades desportivas e/ou laborais, como também para simples gestos da vida diária, como vestir, lavar os dentes, abrir uma porta ou cumprimentar alguém.
Leia Também: A técnica que promete ajudar a perder gordura e a ter uma barriga ‘fit’
Nos últimos anos, com o surgimento do padel, verificou-se um aumento na prevalência desta patologia nas consultas de especialidade, nomeadamente fisiatria e ortopedia. Aliás, este desporto parece apresentar uma incidência mais elevada do que os restantes. Esta conclusão parece estar relacionada não só com um gesto técnico mais agressivo, mas também com condições instrumentais, como o tipo de raquete.
Padel, uma mudança de paradigma
Pelos factos expostos acima, creio que estamos a entrar numa alteração do paradigma em relação a esta patologia. Parece-me mais apropriada neste momento a designação ‘cotovelo do padelista’, face à anterior. Isto relaciona-se com vários fatores.
Em primeiro, com a juventude do padel face ao ténis. O impacto físico desta modalidade demora alguns anos a ser observado e analisado, sendo que é nessa fase que nos encontramos. Já o ténis, pela sua maturidade no panorama desportivo, tem um contexto mais rico para conclusões e possíveis alterações para uma melhor performance e menor índice de lesão.
E foi exatamente o que se verificou em relação à epicondilite lateral, uma patologia que determinou o fim precoce de várias carreiras no ténis. Percebeu-se que a biomecânica própria deste desporto induzia um stress repetitivo na inserção do tendão comum dos extensores do punho e dedos, em especial nos gestos de backhand ou ‘esquerda’. Numa backhand a uma mão, o impacto é absorvido diretamente pelo tendão dos extensores, sendo que uma backhand a duas mãos permite uma distribuição das cargas bilateralmente, além de transmitir mais stress pela articulação do que pelo tendão. Nesse sentido, foi privilegiada a esquerda a duas mãos, reduzindo o risco de lesão.
Leia Também: Esquece-se de lavar esta parte do corpo? Consequências podem ser graves
Graças a essa medida tem-se verificado uma diminuição na prevalência da epicondilite no ténis. Ainda continuam a surgir casos, mas em atletas menos experientes e com menor qualidade de material usado.
Quando transportamos estes critérios para o padel, percebemos as razões por trás da elevada prevalência de epicondilite lateral neste desporto, nomeadamente a backhand a uma mão e o uso de raquetes rígidas, que não absorvem impacto nem vibrações, transmitindo todo esse peso à inserção do tendão. O uso de raquetes de materiais mais suaves, leves e dotados de sistema anti-vibração poderá reduzir o risco de lesão.
Que tratamentos existem?
Quanto ao tratamento, as opções são atualmente mais vastas e eficientes. A abordagem inicial passa pelo tratamento fisiátrico, sendo que a maioria dos casos se resolve nesse contexto, recorrendo a fisioterapia alavancada em programa de exercício clínico e a ondas de choque focais.
Leia Também: Cinco alimentos que protegem o coração. Palavra de cardiologista!
Nos casos refractários, pondera-se a introdução de técnicas minimamente invasivas. Dentro destas é cada vez menos utilizada a infiltração de corticoesteróide, pelo potencial degenerativo do tecido tendinoso. O quadro melhora inicialmente pelo efeito anti-inflamatório, voltando e piorando a posteriori, com perda da qualidade estrutural do tendão.
A técnica de eleição neste momento no Hospital CUF Trindade é a microtenotomia percutânea ecoguiada, associada a PRP (plasma rico em plaquetas), que consiste em micro-lesões por via de uma agulha, sob controlo de imagem ecográfica, no local da lesão, de forma a estimular processos locais de neovascularização e aporte de nutrientes e células envolvidas nos processos de normal regeneração. Associando a injeção local de PRP, entregamos no local exato uma quantidade elevada de fatores de crescimento relacionados com uma mais eficiente proliferação celular e cicatrização tecidular. O procedimento é realizado sob anestesia local.
Tem sido muito interessante observar e documentar a recuperação clínica e muitas vezes imagiológica (redução ou desaparecimento total da fissura ou rotura) após este procedimento. Por norma, o doente recupera num período de seis semanas.
Todo o processo é acompanhado por algum tratamento fisiátrico que contribui para a reaquisição das propriedades viscoelásticas do tendão, força muscular e coordenação neuromotora no gesto técnico. Nos casos mais complexos, deverá ser discutida a possibilidade de cirurgia. Contudo, cada caso é um caso e deve ser avaliado individualmente por profissionais diferenciados e com experiência neste tipo de lesões.
Leia Também: Três estratégias simples para diminuir a retenção de líquidos