“Fizemos algumas mudanças na formação do Estoril Praia e o desafio era muito claro: pôr em letras o processo e explicar o porquê de ter feito algo que se baseava um bocadinho naquilo que eu tinha vivido como jogador profissional, mas que poderia não fazer sentido para tanta gente”, enquadrou à agência Lusa o ex-médio, de 44 anos.
A obra foi editada pela Self e vai ser apresentada em 24 de setembro, a partir das 18:30, no Auditório Maria de Jesus Barroso, em Cascais, praticamente seis meses depois de Hugo Leal ter finalizado um trajeto de 11 anos como dirigente formativo do Estoril Praia.
“Acho que mexe um bocadinho com a postura dos pais, dos treinadores e dos dirigentes. Fala de coisas técnicas e tem contributos muito válidos de pessoas do futebol e de outros elementos da formação. Acabou por ficar um produto final muito engraçado. É um livro fácil de ler e que não procura de todo dar lições de moral nem evangelizar ninguém. A ideia é mesmo fazer pensar”, salientou.
Antigo médio de Benfica (1997-1999), dos espanhóis do Atlético de Madrid (1999-2001), dos franceses do Paris Saint-Germain (2001-2004) e do FC Porto (2004/05), entre outros clubes nacionais, Hugo Leal despediu-se dos relvados ao serviço do Estoril Praia (2012/13), no qual sentiu a urgência de “mudar tanta coisa vivida como jogador” aquando da imediata transição para o dirigismo.
“Principalmente, tentei alterar a postura de quem dirige, porque essa é a base de tudo. O próprio título do livro fala do futebol estúpido, que coloca o resultado desportivo acima dos valores da formação e usa linguagens de guerra quando queremos educar os jovens de forma diferente. Naturalmente, não se esperam milagres, mas algo poderia melhorar se, desde a base, começássemos a mudar algumas situações que não retiram competitividade aos processos e à preparação dos jogadores”, sustentou.
As mudanças aplicadas nas camadas jovens ‘canarinhas’ foram acompanhadas de perto por Filipe Mendonça, ex-colega de direção, que desafiou o ex-internacional português a “partilhar histórias e confidências que julgava que guardaria para si próprio”.
“Procurámos gerir emoções sobre as quais temos, por várias vezes, ausência de controlo, até porque isso faz com que o futebol formativo se aproxime muito do futebol profissional, incluindo as suas coisas menos boas. Quero acreditar que aquilo que fizemos contribuiu em muito para uma boa instrução de quem passou pelo clube durante aquele período. Sem dúvida, há um saldo positivo”, avaliou.
Os quatro capítulos do livro incidem na carreira de Hugo Leal, na identidade fomentada nas equipas de base do Estoril Praia, no papel dos pais dos jogadores e na preponderância dos treinadores, secção rematada com um testemunho de Rúben Amorim, que orienta o campeão nacional Sporting.
“Ele fala um pouco da sua formação como jogador e da capacidade em identificar já na condição de treinador de que modo os jovens chegam ao plantel principal do Sporting. Tem algumas observações que eu não ainda tinha ouvido publicamente da parte dele e também isto é uma descoberta”, revelou.
Os treinadores Jorge Jesus (Al Hilal), Marco Silva (Fulham), Vasco Botelho da Costa (Alverca) e Mariana Cabral, da equipa feminina do Sporting, também deixaram contributos, tal como Alexandre Faria, presidente do Estoril Praia entre 2014 e abril deste ano, os ex-internacionais portugueses Nuno Gomes e Dani, pais de atletas e coordenadores de futebol jovem.