Numa nota complementar ao relatório “Portugal, Balanço Social 2025” sobre “Quem Somos e Como Pensamos? Desigualdades de Género e Rendimento nas Atitudes Sociais”, a equipa de investigadores da Nova SBE mostra que, ao nível do posicionamento político, as mulheres e as pessoas mais pobres frequentemente são os que demonstram não ter nenhum interesse por política.
São também os que têm menos confiança no sistema político em Portugal, com 40% das mulheres e 50,1% dos mais pobres a defenderem que o sistema não dá voz às pessoas, enquanto quase metade das mulheres e 56,9% das pessoas mais pobres acreditam que as pessoas não conseguem influenciar a política.
“Analisando a posição, verifica-se que as mulheres tendem a posicionar-se mais à esquerda ou centro-esquerda (37,5% face a 29% nos homens), enquanto os homens se distribuem mais pela direita ou centro-direita (34,9% face a 26,7% das mulheres)”, lê-se no estudo, que acrescenta que esse posicionamento também varia consoante os rendimentos e que entre os mais ricos a identificação com valores de direita é duas vezes superior à observada nos mais pobres.
Em matéria de valores, o estudo mostra “diferenças significativas” associadas ao género e ao rendimento, com as mulheres e as pessoas mais ricas a valorizarem “viver num sítio seguro” (68,8% e 72,9%, respetivamente), enquanto para os homens (33,3%) e para os mais pobres (31,7%) é mais importante as pessoas fazerem o que lhes mandam e cumprirem sempre as regras.
A confiança social tem níveis “especialmente baixos” entre mulheres e pessoas mais pobres, enquanto a autoridade é valorizada pelos mais pobres e pelos homens. Já na justiça social, são as mulheres e as pessoas com rendimentos mais elevados que demonstram maior preocupação com os direitos da comunidades Lésbica, Gay, Bissexual, Trans, Queer e Intesexo (LGBTQIA).
O estudo analisou o posicionamento em relação à imigração e concluiu que houve “uma alteração significativa das posições entre 2016 e 2023”, tendo aumentado, tanto entre homens como mulheres, a perceção generalizada de que a “imigração tem um impacto económico positivo”.
“As opiniões sobre o impacto da imigração variam consoante o género e o rendimento, com as mulheres e as pessoas mais pobres a serem identificados como os grupos menos abertos à imigração. A origem étnica dos imigrantes não influencia de forma significativa a perceção”, revela o estudo.
Já no que diz respeito à posição sobre igualdade de género, “as opiniões sexistas persistem, sobretudo entre os homens e os indivíduos com menores rendimentos, refletindo-se na crença de que as mulheres têm maior capacidade para distinguir entre o bem e o mal e na ideia de que os homens devem proteger as mulheres”.
Aponta que a discriminação contra as mulheres acontece sobretudo em contexto laboral, enquanto contra os homens “surge mais associada a interações com a polícia”.
Desigualdade de género tem também reflexo no cuidado informal, “com as mulheres e os mais pobres a assumirem significativamente mais horas de cuidados intensivos (+40 horas por semana)”.
Este estudo foi realizado com base nos microdados do Inquérito Social Europeu e utilizando uma amostra de 1.373 residentes em Portugal, sendo da responsabilidade da universidade Nova SBE, Fundação La Caixa e BPI.
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