“Senhor secretário-geral [António] Guterres, o pesadelo de que fala é, de facto, uma realidade. A realidade é que o Hezbollah tomou o Líbano como refém e a ONU não reconhece as suas ações nem cumpre a sua obrigação fundamental: prevenir os ataques do Hezbollah e exigir a aplicação da resolução 1701”, frisou Yoav Gallant, através da rede social X.
Gallant instou o diplomata português a concentrar os seus esforços em garantir que a milícia libanesa pró-iraniana cumpre a resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em agosto de 2006.
A medida conseguiu pôr fim à guerra entre Israel e o Hezbollah com a cessação das hostilidades, bem como a retirada das tropas israelitas do Líbano, o envio de tropas libanesas e da ONU para a zona e o desarmamento de grupos armados, incluindo o Hezbollah.
As palavras do ministro da Defesa israelita surgiram em resposta ao discurso inaugural de Guterres na 79.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no qual denunciou que a situação na Faixa de Gaza é “um pesadelo sem fim” que ameaça também expandir o conflito para o resto da região, com o Líbano “à beira do abismo”.
“A população do Líbano, a população de Israel e a população mundial não podem permitir que o Líbano se torne noutra Gaza”, frisou Guterres, aludindo à situação no território libanês após os recentes ataques das Forças Armadas israelitas (IDF).
O discurso de Guterres suscitou também críticas por parte do representante israelita na ONU, Danny Danon, que esteve presente na sessão.
Danon descreveu como “triste” que ao falar sobre a libertação dos reféns às mãos do Hamas, a sala “permaneça em silêncio”, mas ao falar sobre o sofrimento em Gaza “receba aplausos estrondosos”.
Nos últimos dias, o Exército israelita levou a cabo ataques em vários pontos do sul e leste do Líbano, e também na capital, Beirute, nos quais foram mortas cerca de 600 pessoas e mais de mil ficaram feridas. As autoridades israelitas garantiram ter eliminado vários comandantes do Hezbollah.
Esta nova fase do conflito, de aumento dramático de tensões entre Israel e o Hezbollah, foi desencadeada por dois dias de explosões simultâneas dos dispositivos de comunicação do grupo, primeiro ‘pagers’, depois ‘walkie-talkies’ – a 17 e 18 de setembro -, ataques atribuídos a Israel que fizeram cerca de 40 mortos e de 3.000 feridos, de acordo com o mais recente balanço divulgado pelas autoridades libanesas.
Há mais de 11 meses que as forças israelitas e o Hezbollah estão envolvidos num intenso fogo cruzado ao longo da fronteira entre o Líbano e Israel, nos piores confrontos desde a guerra de 2006, que se intensificaram fortemente este verão, após um ataque da milícia pró-iraniana que matou 12 crianças nos Montes Golã, ocupados por Israel desde 1967.
As tensões na região do Médio Oriente aumentaram após o ataque de 07 de outubro de 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas em território israelita, que fez 1.205 mortos, na maioria civis, e 251 reféns, e em retaliação ao qual o Exército israelita iniciou uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza que já fez pelo menos 41.467 mortos e 95.900 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, segundo números do Ministério da Saúde local, que a ONU considera fidedignos.
A partir do Líbano, o Hezbollah juntou-se aos ataques contra Israel, em solidariedade com a população palestiniana, abrindo assim uma segunda frente de batalha para Israel, na sua fronteira norte, fazendo a comunidade internacional temer o alastramento do conflito a todo o Médio Oriente.
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