O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Geir Pedersen, chegou hoje a Damasco, onde se encontrou com o líder da Organização para a Libertação do Levante, como também é designado o grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que lidera a coligação que derrubou Bashar al-Assad do poder.
Segundo um comunicado do grupo, publicado na plataforma Telegram, Abu Mohammad al-Jolani, que agora usa o seu nome verdadeiro, Ahmad al-Chareh, e Geir Pedersen discutiram “as mudanças na cena política que tornam necessário rever” a Resolução 2254 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
A resolução, adotada em 2015, estabelece um roteiro para uma solução política na Síria, segundo as diretrizes estabelecidas na altura pela comunidade internacional para pôr fim ao conflito sírio.
A Resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU, adotada por unanimidade, apela a um cessar-fogo e a uma solução política para pôr fim à guerra civil na Síria, que o HTS considera ter terminado.
Numa declaração publicada pelo grupo na sua conta da rede social X, o líder ‘jihadista’ evocou, no seu primeiro encontro frente a frente com Pedersen, a necessidade de “reconsiderar a resolução”, tendo em conta “as mudanças ocorridas no cenário político, que tornam necessário atualizar a resolução para a adaptar à nova realidade”.
A “nova realidade” a que Al-Jolani se refere é o fim da dinastia Al-Assad, que terminou no passado domingo com a tomada de Damasco pela aliança de grupos armados da oposição liderados pelo HTS, e colocou um dos seus líderes mais proeminentes na sua província bastião de Idlib, Mohamed al-Bashir, como primeiro-ministro do país.
A comunidade internacional está a reagir lentamente, mas com cautela, a esta nova administração liderada por um grupo que ainda é considerado pelos Estados Unidos da América (EUA) como uma organização terrorista devido às suas ligações originais à Al-Qaida.
Desde que chegou ao poder, Al-Jolani tem tentado ganhar a confiança da comunidade internacional com um discurso moderado que repetiu a Pedersen.
O líder do HTS comentou, segundo o grupo, sobre “a necessidade de abordar com cautela e precisão as fases de transição e reabilitar as instituições para construir um sistema forte e eficaz”, além de “proporcionar um ambiente seguro para o regresso dos refugiados e fornecer apoio económico e político para isso”, sempre “sob a supervisão de equipas especializadas, para que possam ser realizadas da melhor maneira possível”.
Ao chegar a Damasco, Pedersen apelou a um rápido fim das sanções atualmente em vigor contra o regime do antigo Presidente Bashar al-Assad, para facilitar uma transição política e uma solução para os enormes desafios que o país enfrenta.
“Temos de garantir que a situação é resolvida rapidamente. Esperamos que as sanções terminem em breve, para que possamos realmente ver uma mobilização em torno da reconstrução da Síria”, disse o enviado.
Pedersen, a este respeito, recordou que a decisão está nas mãos dos Estados Unidos e da União Europeia, enquanto responsáveis pela imposição de sanções que nada têm a ver com as Nações Unidas.
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