Há mais um hospital envolvido em polémica devido às cirurgias adicionais no serviço de dermatologia. Depois do Santa Maria, é a vez do Amato Lusitano, em Castelo Branco, onde, em apenas dois anos (2022 e 2023), uma equipa de dois dermatologistas – pai e filho – faturou mais de 1,5 milhões de euros.
De acordo com a CNN Portugal, que avançou em primeira mão com a notícia, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) está já a investigar as cirurgias adicionais realizadas por José Mendes Gil e Francisco Saraiva Gil, para perceber se foram cumpridos todos os critérios legais nas operações.
Conta ainda o mesmo canal de televisão que a IGAS investiga também o facto de Francisco Saraiva Gil, o mais novo dos médicos, que é desde 2024 o único especialista em dermatologia do Hospital Amato Lusitano, ter faturado, num só ano, mais de 900 mil euros às custas das produções adicionais.
A auditoria da IGAS irá agora determinar se houve ou não violação das regras do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou se se tratou apenas de uma utilização intensiva de um mecanismo legal, mas controverso.
O Notícias ao Minuto já está a tentar confirmar a investigação com a IGAS.
Caso Miguel Alpalhão
Ao caso de José Mendes Gil e Francisco Saraiva Gil somam-se a outras situações já detetadas anteriormente no SNS, como a do dermatologista Miguel Alpalhão que, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, faturou irregularmente 400 mil euros em apenas 10 sábados.
Em novembro, após meses de polémica e de investigações, Miguel Alpalhão apresentou a sua demissão do Santa Maria, alegando que não lhe restava outra atitude perante o tratamento “humilhante, degradante e persecutório” que foi alvo por parte da administração do hospital.

Após ser afastado, dermatologista do Santa Maria demite-se: “Humilhante”
O médico dermatologista Miguel Alpalhão apresentou hoje a sua demissão do Hospital de Santa Maria (Lisboa), alegando que não lhe restava outra atitude perante o tratamento “humilhante, degradante e persecutório” que foi alvo por parte da administração.
Lusa | 17:13 – 28/11/2025
Nessa carta, o especialista, que recebeu mais de 700 mil euros em três anos de cirurgias adicionais no Hospital de Santa Maria, garantiu que cessava o seu contrato com a “plácida consciência” de quem cumpriu as suas funções e obrigações de “acordo com as ordens superiores e procedimentos vigentes” no hospital.
Miguel Alpalhão, que antes de se demitir tinha sido suspenso, disse que essa suspensão pretendia fazer de si um “bode expiatório para lavar a imagem de uma instituição que não sabe assumir as suas responsabilidades e proteger” os seus colaboradores.
Recorde-se, contudo, que um relatório da IGAS, divulgado também no passado mês de novembro, concluiu que o dermatologista em questão propôs, aprovou e codificou as suas próprias cirurgias mais de 350 vezes e que marcou consulta para os seus pais sem referenciação prévia obrigatória e operou-os, recebendo mais de 5.500 euros pelas cirurgias dos familiares.
Ontem, quarta-feira, 17 de dezembro, a Antena 1 revelou que, entretanto, Miguel Alpalhão “devolveu o dinheiro relativo às cirurgias adicionais”, que terá feito irregularmente.
O relatório da IGAS foi enviado ao Ministério Público (MP) e aguarda-se agora pela sua decisão para saber quais os próximos passos que serão dados.
Mecanismo (controverso) de redução de listas de espera
A produção cirúrgica adicional é um regime que, no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), permite a realização de operações fora do horário de trabalho normal das equipas, como aos fins de semana, para reduzir as listas de espera.
No entanto, tem sido alvo de críticas por alegado uso abusivo. De acordo com a IGAS, em 70% das Unidades Locais de Saúde as cirurgias adicionais representam mais de 30% da atividade total, um sinal de que estas se tornaram uma prática sistemática e não de exceção.
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